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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

Fuga de cérebros
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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O termo "fuga de cérebros" se refere à saída de mão de obra qualificada de algum país. É um tipo de migração, não necessariamente motivada por conflitos, mais atrelada à busca por uma condição de trabalho melhor. É comum um pesquisador qualificado trocar de país para ter acesso a um laboratório mais equipado, melhores salários, melhor condição de vida, enfim, são múltiplas as motivações relacionadas. No atual momento, alguns pesquisadores, como Ana Maria Carneiro tem chamado a situação brasileira de "diáspora intelectual", tendo em vista que o Brasil é o país com maior taxa de migrantes altamente qualificados residindo nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

CONDIÇÕES PERVERSAS

Em uma pesquisa, conduzida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi constatado que 47% dos jovens entre 15 a 29 anos pensam em viver em outro país, buscando estabilidade e melhores condições de vida. A pesquisa, que engloba diferentes classes sociais, demonstra uma profunda insatisfação motivada pela falta de perspectiva. Esta mesma pesquisa mostra que 27% dos jovens não estão nem trabalhando nem estudando no momento. Esta situação reflete, em boa medida, a condição relacionada à oferta de vagas de emprego, hoje cada vez mais raras.

Nos últimos três anos, o Brasil perdeu as empresas Ford, Sony, LafargeHolcim, Roche e inúmeras outras. Em seus rearranjos econômicos, o Brasil teve uma fuga massiva de capital internacional destinada à produção industrial, o que alimentava uma soma significativa de empregos. Em suma, estamos vivenciando um contexto no qual a oferta de vagas que exigem qualificação estão sumindo do mercado, seja pela crise que estamos passando, seja pela fuga de capital estrangeiro. A consequência é a falta de perspectiva em relação aos jovens altamente qualificados.

O QUE PERDEMOS COM ISSO?

Não dar espaço de inserção no mercado de trabalho para jovens qualificados envolve, em um curto espaço de tempo, a acentuação da crise econômica. A economia mundial tem mudado a passos largos, e a produção de inovação tem ganhado destaque dentro do cenário econômico. Boa parte das empresas com maior valor agregado são justamente empresas de tecnologia, como Google, Apple, Amazon, Uber, etc. Como os países da OCDE sabem muito bem disso, estes países criaram sistemas de cooptação de mão de obra qualificada. 

A consequência é que hoje, existem brasileiros que poderiam estar gerando riqueza no Brasil trabalhando em outros países. Infelizmente, nossa baixa capacidade de olhar de forma estratégica para a geração de inovação vai ter como consequência uma situação financeira nada confortável para o Brasil, com uma tendência de o PIB não se desenvolver de forma significativa nos próximos anos.

Politicamente incorreto
Rogério Koff
Professor universitário

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O psicólogo clínico canadense Jordan Peterson alcançou fama mundial a partir de 2016, quando se insurgiu contra uma lei aprovada em seu país que tornava crime a discriminação contra homossexuais e pessoas "não-binárias". Não se tratava de preconceito por conta de Peterson, mas de uma forte oposição à obrigação instituída no sentido do uso de pronomes neutros, que o psicólogo considerava resultado de uma agenda ideológica da esquerda. Na época, enfatizou que as proibições de linguagens consideradas "ofensivas" à chamada "identidade de gênero" era uma clara ameaça à liberdade de expressão.

Na onda formada em torno de seu nome, Jordan Peterson emplacou um recorde de vendas de seu segundo livro, chamado "12 regras para a vida: um antídoto para o caos" e passou a ser considerado um dos pensadores mais influentes da atualidade. A própria Camille Paglia descreveu o livro como uma síntese ousada e interdisciplinar que combina psicologia, antropologia, política e religião, capaz de produzir um novo modelo humanista para o futuro.

Ao contrário do que o título possa sugerir, o livro não é um simples manual de autoajuda. Jordan Peterson pode ser considerado um pensador conservador, ao afirmar que estruturas sociais complexas servem para reduzir e conter tendências violentas dos indivíduos. Estas ideias fazem do autor um defensor de instituições sólidas como família e escola, apontando que crenças ideológicas em elementos puramente destrutivos de regras e estruturas sociais são suposições sem fundamento.

OS DEBATES DE MUNK

Psicólogos não são imunes aos males que afligem seus pacientes. Recentemente, Peterson se afastou de debates públicos por conta de problemas familiares, depressão e de uma dependência de drogas antidepressivas. Felizmente, voltou à cena política em um belo debate entre conservadores e progressistas. Os chamados debates Munk reuniram, do lado conservador, Peterson e o ator e roteirista Stephen Fry, contra o escritor e professor de sociologia Michael Eric Dyson e a colunista do New York Times Michelle Goldberg. 

A íntegra dos debates foi publicada recentemente no Brasil sob o título de "Politicamente Correto". É óbvio que Peterson e Fry fizeram contraponto à defesa proposta por Dyson e Goldberg desta nova ideologia. A síntese do pensamento de Peterson é de que, sob a alegação de defesa de direitos de supostas minorias, a esquerda foi longe demais. O autor de "12 Regras" não hesitou em afirmar que universidades, sobretudo as ciências sociais e humanas, foram totalmente dominadas pelo espírito esquerdista. 

Para Peterson, o pensamento politicamente correto é um tipo de ideologia que reduz as pessoas ao suposto pertencimento a um grupo racial ou vinculado ao gênero, tornando a sociedade uma espécie de campo de batalha. Seu pessimismo vai além: "Acho que as universidades estão acabadas. Não creio que elas possam escapar disso". 

Fica ao leitor a recomendação destes dois livros. 

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